quarta-feira, setembro 20, 2006

9º Dia - Domingo, 10 de setembro de 2006

Diário da Expedição Desafio do Espinhaço
Crédito dos textos: Herbert Pardini

O dia que não terminou

Após uma noite de descanso ao lado da capela de Nossa Senhora de Fátima, às margens da BR-381, acordamos com um belíssimo nascer do Sol. O dia de passagem pela rodovia prometia.
Mas, alguns indicativos começaram a surgir apontando que nosso dia não seria nada fácil. Logo cedo Ruslan “perdeu” a chave da Toyota. Reviramos tudo, abrimos mochilas, retiramos sacos de dormir, isolantes, roupas, na esperança de que alguém pudesse ter guardado desavisadamente a chave. Por incrível que pareça o primeiro momento difícil da Expedição aconteceu com a perda da chave do carro de apoio. Felizmente não demorou muito até que Marcelo Andrê encontrasse dentro da pochete do próprio Ruslan, as chaves teoricamente perdidas. Logicamente nosso amigo Ruslan foi motivo de chacota durante um bom tempo.

A travessia de hoje ganhou rapidamente a cota de 1250 metros. Ainda próximo à BR os campos rupestres se apresentavam com toda a sua diversidade, principalmente de flora. Seguimos a caminhada passando próximo a uma propriedade rural e ganhamos uma trilha em meio à mata que nos levaria à crista novamente. Neste momento ouvimos o grito de dor de Marcelo Andrê que acaba de torcer o tornozelo. Mais um mau presságio para o dia. Rapidamente Marcelo fez uma imobilização e continuamos a caminhada.

Voltando à crista: o capim alto, em meio às fendas formadas pelas rochas sobrepostas dos campos rupestres, fez com que eu pisasse no vazio ao tentar avançar na abertura de uma passagem. A queda, apesar de ter assustado a todos não passou de um susto, uma vez que caí de costas bem próximo à vertente íngreme da serra.

Chegamos ao ponto combinado com o apoio, no horário previsto. Marcelo Vasconcelos e Paulo Fiote estavam envolvidos com suas pesquisas e ilustrações científicas. Após o lanche, continuamos nossa caminhada a partir da primeira estrada a partir da rodovia que liga os municípios de Nova União e Bom Jesus do Amparo. Encontramos uma trilha limpa e rapidamente chegamos ao topo da montanha. O objetivo era chegar até a próxima estrada que cruzaria a Serra.

A caminhada pelo campo rupestre não era fácil, as pedras soltas e as fendas dificultando a progressão. Escorregões e tropeços eram bastante comuns. Já era possível avistar a estrada e conversar pelo rádio com o nosso apoio quando nos perguntamos: como faremos para descer? A íngreme vertente da Serra formava um ângulo de quase 90º graus com as áreas deprimidas onde teríamos que chegar para alcançar o apoio.

A primeira tentativa por pouco não acabou em acidente. Identificamos uma descida em meio às rochas e ao capim. Parecia que alguém já havia passado por lá. Começamos a descer. Logo no início um único chinelo parecia nos avisar que aquele não era o melhor caminho. Fomos descendo, segurando em raízes e rochas, tentando não escorregar, até que parei em um ponto em que via o solo, a área de pastagem na qual sairíamos, mas não conseguia ver o restante da parede. A descida se tornava negativa, sendo necessário o uso de cordas para vencer aquele obstáculo. Com dificuldade voltamos à crista.

Tentamos mais duas vezes outras rotas de fuga, mas todas levavam às imponentes paredes da Serra. Já eram 16h30 quando decidimos retornar ao ponto em que encontramos com o apoio. Pelo menos tínhamos certeza que conseguiríamos sair do alto da Serra com segurança.
Talvez hoje tenha sido o dia mais desgastante por causa deste acontecimento. No primeiro dia quando chegamos quase 22h30 no acampamento, estávamos tranqüilos, pois o caminho era conhecido. Dessa vez não, o cansaço psicológico foi grande, ninguém conhecia o local e muito menos uma forma de continuar a caminhada.

Não posso dizer que não houve uma certa decepção por parte da equipe, ao mesmo tempo ficamos felizes pelas decisões tomadas, e pelas condições em que se deu o fato, afinal tínhamos sempre nosso apoio por perto, pelo menos no contato pelo rádio. Amanhã partimos para os acampamentos. Serão 2 noites e 3 dias de caminhada até chegarmos à MG-010.

Equipe da caminhada: Herbert Pardini, Marcelo Andrê e Bruno Costa e Silva.
Equipe de Pesquisa e Ilustração: Marcelo Vasconcelos e Paulo Fiote.
Apoio: Ruslan Fernandes