11º Dia – Terça Feira, 12 de setembro de 2006
Diário da Expedição Desafio do Espinhaço
Crédito dos Textos: Herbert Pardini
Vivendo a vida com plenitude
Sem a intenção de transformar este relato em um texto de auto-ajuda, acredito que experiências pessoais possam servir como exemplo ou referência para outras pessoas. Sempre pensei que independente da forma que vivemos (ou existimos, para alguns), devemos aproveitar todos os momentos por inteiro, sejam eles bons ou ruins, porque em pouquíssimo tempo eles passam. Se tornam marcas, cicatrizes ou apenas boas lembranças.
Hoje foi um destes dias. Até a metade do dia, pensei em colocar como título deste relato a seguinte frase: “Um dia perfeito”. No final do dia enquanto a noite caia e nossa caminhada em busca do local de acampamento parecia interminável, pensei: “Por que não paramos antes?”.
Como previsto, saímos da barraca por volta das 6 horas da manhã. O sol já se apresentava forte, céu azul, quase sem nuvens. Água fervendo e café da manhã pronto. Andrê para não perder a prática encarou logo o RO (resto de ontem) do jantar. Desmontamos acampamento e às 8h estávamos caminhando.
Chegamos ao limite sul do Parque Nacional da Serra do Cipó. Os campos pareciam infinitos. Altitudes variando entre 1400 e 1600 metros. Num giro de 360º apenas serras, campos, alguns capões de matas e drenagens. Uma paisagem selvagem, profunda, onde pouquíssimos privilegiados tiveram a oportunidade de estar. Neste momento compreendemos a importância da Unidade de Conservação.
Eu e Marcelo Andrê após alcançarmos a cota de 1458 metros na Serra de Altamira fomos obrigados a parar. Filmagens e fotos não são suficientes para descrever o que o olhar alcança. Ficamos parados neste local cerca de 1 hora e a vontade era de não mais sair dali. Não era preciso mais nada. Deitado no chão encostado em minha mochila, tive a melhor sensação desta viagem. Me encontrava em paz, tranqüilo, completo.
Marcelo fez belas fotos neste dia. A luz favorecia. Os campos floridos e as formações típicas dos campos rupestres nos impressionavam com tanta diversidade. O dia era longo e a caminhada continuava. Apesar de decisões acertadas na navegação, tínhamos ainda muito que percorrer. Chegamos ao nosso primeiro objetivo por volta de 14 horas. Alcançamos o posto de apoio do IBAMA nos Currais, onde uma hospitaleira equipe do Previfogo vindo da região da Serra dos Alves, Bongue e Cabeça de Boi, se encontrava apostos para combater os focos de incêndio que, infelizmente, podiam ser vistos na parte baixa do Parque. Aceitamos o convite para o almoço e o arroz com feijão e farinha foram muito bem recebidos.
Saímos às 15h com o intuito de chegar ao Travessão ainda neste dia. Pelo mapa faltavam pelo menos 13km o que significava que chegaríamos apenas à noite. Seguimos a caminhada. Apesar da mochila me lembrar a todo momento que estava em meus ombros e que havia um preço para carregá-la, e os calcanhares e suas bolhas me fazerem sentir o pé latejar em alguns momentos, o melhor era caminhar. Ficar parado parecia a pior decisão.
A luz do fim do dia estava maravilhosa. Avistamos o Travessão ao longe. A noite começava a chegar. Tínhamos ainda um grande obstáculo pela frente. As matas de samambaia que em 2005 nos custaram algumas horas para ultrapassá-las. Decidimos tentar atravessar a drenagem, ao invés de encarar as samambaias.
Primeira tentativa e erro. O rio parecia ser profundo, tinha correnteza e a mata na outra margem impediria nossa saída. Marcelo então sugeriu uma nova tentativa pouco abaixo. O som de corredeira apontava a possibilidade de uma passagem sobre pedras em um trecho mais represado do rio. Segunda tentativa e acerto. Atravessamos a mata ciliar e com certo malabarismo atravessamos o rio equilibrados em pedras escorregadias, alcançando a outra margem.
Primeiro obstáculo vencido era hora de encontrar a área para o acampamento. A noite já havia caído, já se passava das 18h. O cansaço já se abatia sobre nós. Tínhamos percorrido 30km neste dia. A vontade de chegar se misturava à vontade de parar por ali mesmo e simplesmente dormir. Estávamos tão próximos de nosso objetivo e ao mesmo tempo tão distantes. As trilhas abandonadas pela falta de uso, nos enganavam a todo momento e era impossível permanecer por muito tempo em uma delas. Mesmo assim continuamos. Atravessamos mais duas drenagens e chegamos a uma área de campo próximo a uma boa água. Foram quase 12 horas de caminhada neste dia. Apesar do sono e do cansaço, jantamos e só depois, perto das 23 horas fomos dormir.
Foram momentos difíceis, talvez o dia em que mais fomos exigidos. Talvez até mais que no primeiro dia em que caminhamos mais de 40km. Mas, da mesma forma que os outros dias este também passou, acabou. Somente nós que estávamos ali aproveitamos ou sofremos com experiências genuínas e incomensuráveis. Foram momentos de companheirismo, de alegria e de angústia. Foram momentos de vivência plena. Mais que nunca temos consciência que estamos fazendo história.
Equipe da caminhada: Herbert Pardini e Marcelo Andrê
Crédito dos Textos: Herbert Pardini
Vivendo a vida com plenitude
Sem a intenção de transformar este relato em um texto de auto-ajuda, acredito que experiências pessoais possam servir como exemplo ou referência para outras pessoas. Sempre pensei que independente da forma que vivemos (ou existimos, para alguns), devemos aproveitar todos os momentos por inteiro, sejam eles bons ou ruins, porque em pouquíssimo tempo eles passam. Se tornam marcas, cicatrizes ou apenas boas lembranças.
Hoje foi um destes dias. Até a metade do dia, pensei em colocar como título deste relato a seguinte frase: “Um dia perfeito”. No final do dia enquanto a noite caia e nossa caminhada em busca do local de acampamento parecia interminável, pensei: “Por que não paramos antes?”.
Como previsto, saímos da barraca por volta das 6 horas da manhã. O sol já se apresentava forte, céu azul, quase sem nuvens. Água fervendo e café da manhã pronto. Andrê para não perder a prática encarou logo o RO (resto de ontem) do jantar. Desmontamos acampamento e às 8h estávamos caminhando.
Chegamos ao limite sul do Parque Nacional da Serra do Cipó. Os campos pareciam infinitos. Altitudes variando entre 1400 e 1600 metros. Num giro de 360º apenas serras, campos, alguns capões de matas e drenagens. Uma paisagem selvagem, profunda, onde pouquíssimos privilegiados tiveram a oportunidade de estar. Neste momento compreendemos a importância da Unidade de Conservação.
Eu e Marcelo Andrê após alcançarmos a cota de 1458 metros na Serra de Altamira fomos obrigados a parar. Filmagens e fotos não são suficientes para descrever o que o olhar alcança. Ficamos parados neste local cerca de 1 hora e a vontade era de não mais sair dali. Não era preciso mais nada. Deitado no chão encostado em minha mochila, tive a melhor sensação desta viagem. Me encontrava em paz, tranqüilo, completo.
Marcelo fez belas fotos neste dia. A luz favorecia. Os campos floridos e as formações típicas dos campos rupestres nos impressionavam com tanta diversidade. O dia era longo e a caminhada continuava. Apesar de decisões acertadas na navegação, tínhamos ainda muito que percorrer. Chegamos ao nosso primeiro objetivo por volta de 14 horas. Alcançamos o posto de apoio do IBAMA nos Currais, onde uma hospitaleira equipe do Previfogo vindo da região da Serra dos Alves, Bongue e Cabeça de Boi, se encontrava apostos para combater os focos de incêndio que, infelizmente, podiam ser vistos na parte baixa do Parque. Aceitamos o convite para o almoço e o arroz com feijão e farinha foram muito bem recebidos.
Saímos às 15h com o intuito de chegar ao Travessão ainda neste dia. Pelo mapa faltavam pelo menos 13km o que significava que chegaríamos apenas à noite. Seguimos a caminhada. Apesar da mochila me lembrar a todo momento que estava em meus ombros e que havia um preço para carregá-la, e os calcanhares e suas bolhas me fazerem sentir o pé latejar em alguns momentos, o melhor era caminhar. Ficar parado parecia a pior decisão.
A luz do fim do dia estava maravilhosa. Avistamos o Travessão ao longe. A noite começava a chegar. Tínhamos ainda um grande obstáculo pela frente. As matas de samambaia que em 2005 nos custaram algumas horas para ultrapassá-las. Decidimos tentar atravessar a drenagem, ao invés de encarar as samambaias.
Primeira tentativa e erro. O rio parecia ser profundo, tinha correnteza e a mata na outra margem impediria nossa saída. Marcelo então sugeriu uma nova tentativa pouco abaixo. O som de corredeira apontava a possibilidade de uma passagem sobre pedras em um trecho mais represado do rio. Segunda tentativa e acerto. Atravessamos a mata ciliar e com certo malabarismo atravessamos o rio equilibrados em pedras escorregadias, alcançando a outra margem.
Primeiro obstáculo vencido era hora de encontrar a área para o acampamento. A noite já havia caído, já se passava das 18h. O cansaço já se abatia sobre nós. Tínhamos percorrido 30km neste dia. A vontade de chegar se misturava à vontade de parar por ali mesmo e simplesmente dormir. Estávamos tão próximos de nosso objetivo e ao mesmo tempo tão distantes. As trilhas abandonadas pela falta de uso, nos enganavam a todo momento e era impossível permanecer por muito tempo em uma delas. Mesmo assim continuamos. Atravessamos mais duas drenagens e chegamos a uma área de campo próximo a uma boa água. Foram quase 12 horas de caminhada neste dia. Apesar do sono e do cansaço, jantamos e só depois, perto das 23 horas fomos dormir.
Foram momentos difíceis, talvez o dia em que mais fomos exigidos. Talvez até mais que no primeiro dia em que caminhamos mais de 40km. Mas, da mesma forma que os outros dias este também passou, acabou. Somente nós que estávamos ali aproveitamos ou sofremos com experiências genuínas e incomensuráveis. Foram momentos de companheirismo, de alegria e de angústia. Foram momentos de vivência plena. Mais que nunca temos consciência que estamos fazendo história.
Equipe da caminhada: Herbert Pardini e Marcelo Andrê
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