terça-feira, setembro 26, 2006

19o. Dia – Quarta feira 20 de Setembro de 2006

Educação e Hospitalidade: algo que falta nas cidades e sobra no interior

Você abriria sua casa para um desconhecido? Você colocaria dentro de sua casa um bando de homens sujos, com a barba por fazer a semanas, carregando mochilas e cajados? Pois bem, talvez a ingenuidade interiorana ou mesmo a confiança em que se tem nas pessoas, mesmo que desconhecidas, fez com que por mais de uma vez fossemos convidados a entrar em casas, tomar o tradicional cafezinho e mesmo almoçar.

Hoje foi mais um desses dias. Pelo trajeto planejado passamos por estradas abandonadas e picadas em meio a áreas de pastagens, chegando próximo à sedes de propriedades rurais. Nos chamou a atenção o número de fazendas antigas e bem conservadas na região. Em uma delas fomos convidados a entrar e o almoço foi inevitável. Arroz branco, feijão, carne cozida com mandioca e alface. Para a sobremesa um delicioso doce de leite.

Enquanto eu e Marcelo Andrê andávamos, Ruslan, Bruno e Vasconcelos seguiram para a cidade de Gouveia para encontrar um lugar para nosso pernoite. Chegando lá foram à Prefeitura Municipal. Como já se podia imaginar a recepção foi excelente, sendo que rapidamente já estavam até conversando com o Prefeito. Secretários de Esportes e Meio Ambiente se interessaram pelo Projeto da Expedição e logo disponibilizaram para a equipe o uso das instalações do clube campestre, onde teríamos banho quente e um local coberto para dormir.
Do pouco que vimos, gostamos muito do município de Gouveia. Uma paisagem diferenciada e bastante representativa. Infelizmente a localização do município acaba fazendo com que o turista tenha foco apenas em Diamantina ou nas cidades da borda leste do Espinhaço como Serro, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras. Na próxima ida a Diamantina não deixe de tomar um banho no Rio Paraúna, parar nos moinhos de vento para sentir o ar das montanhas e conhecer as redondezas de Gouveia, como o Distrito de Barão de Guaicuí.

Mais um fato importante aconteceu no dia de hoje no que se refere às pesquisas realizadas por Marcelo Vasconcelos. Bruno conseguiu filmar duas aves de grande relevância para a Cadeia do Espinhaço: o joão-Cipó (Asthenes luizae) e o papa-moscas-de-costas-cinzentas (Polystictus superciliaris). Além disso, nos últimos dias foram identificadas espécies de aves que representam novos registros geográficos de grande relevância, citando-se, como exemplo, o beija-flor-asa-de-sabre (Campylopterus largipennis diamantinensis), o beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus) e o tibirro-rupestre (Embernagra longicauda).

Vale ressaltar ainda que Marcelo Vasconcelos encontrou em brejos de altitude da região da Serra do Cipó, no dia em que ficamos na sede do IBAMA na MG-010, o macuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis). Esta espécie de ave foi descoberta e descrita apenas em 1998 no Paraná. O presente registro representa o limite Norte de sua distribuição geográfica e foi, sem sombra de dúvidas, a mais importante descoberta científica ocorrida durante a expedição.

Caminhamos 34km neste dia. Faltam 3 dias para a chegada a Diamantina.

Texto: Herbert Pardini
Equipe da caminhada: Herbert Pardini e Marcelo Andrê
Apoio: Ruslan Fernandes
Pesquisa: Marcelo Vasconcelos
Documentarista: Bruno Costa e Silva