terça-feira, setembro 26, 2006

22o. Dia – Sábado 23 de Setembro de 2006

Chegamos em Diamantina. Hoje é Primavera.

Entre as várias boas coincidências dessa Expedição, mais uma estava guardada para o final. O Espinhaço conhecido principalmente pela sua riqueza e diversidade de sua flora, tinha, no dia de início da Estação das Flores, a conclusão da Expedição Desafio do Espinhaço. A chegada em Diamantina não poderia ocorrer em uma data melhor.

O dia começou cedo para Ruslan que as 4:00h da manhã seguiu para Gouveia para receber Fiote e França. Assim que percebi sua chegada pulei da cama e voltei a trabalhar no computador. Um a um a equipe foi despertando e nossos amigos eram recebidos pelos que já estavam na casa.

Arrumadas as mochilas e colocados todos os equipamentos no carro era hora de partir, dar tchau às pessoas que tão bem nos receberam em Barão de Guaicuí e seguir para a caminhada final.
Antes disso era importante conversar. Num momento de pura emoção, sentados em um dos cômodos da casa que por dois dias nos acolheu, 6 amigos se despediam da Expedição. Se despediam do campo, mas levavam consigo momentos inesquecíveis passados no lugar em que mais gostamos de estar, nas montanhas. Mais que uma realização de montanhismo ou de uma exploração científica, levávamos dali lembranças de companheirismo, alegria, fraternidade, cordialidade, respeito e amizade. Lembranças essas que fizeram com que todo o planejamento fosse cumprido como previsto. Com que todos chegassem ao final bem, sem problemas. As dificuldades foram vencidas através do pensamento em um objetivo comum maior. As dificuldades foram transformadas em grandes piadas. Vivemos 22 dias de plenitude.

O que será a partir de agora ainda não sabemos. Vamos fazer de tudo para levar a frente os objetivos propostos. Mas de uma coisa temos certeza: momentos como os vividos aqui dificilmente serão vividos novamente. Privilegiados nós somos por durante 22 dias estarmos em contato direto com a natureza e com as pessoas que nela vivem. Poder beber as águas que descem da serra, admirar o canto dos pássaros, conversar com as pessoas, acordar e ter certeza que o dia seria ainda melhor que o anterior. As paisagens do Espinhaço e seus moradores marcaram os corações de nós caminhantes. Impossível conter as lágrimas ao pensar no que foi realizado. Ao pensar que estava feito aquilo que nos propomos a fazer.

Os últimos quilômetros antes de chegar à Diamantina foram marcados pela expectativa, pelos momentos de individualidade e reflexão, pelos bate papos sobre assuntos que parecem nunca se esgotar. Quantas pessoas estariam nos esperando na Igreja Matriz de Diamantina?

Seguindo pela antiga estrada de ferro, entramos por volta das 14h nas ruas calçadas da cidade. A sensação estranha de ter que se preocupar com os carros na rua era um incômodo. As pessoas nos olhavam com curiosidade e faziam comentários. Talvez alguns poucos soubessem o que estávamos acabando de fazer, mas para a maioria talvez fossemos apenas um bando de homens à toa, sem coisa melhor a fazer.

De repente, mais rápido do que se imaginava, estávamos no Centro Histórico de Diamantina em frente à Igreja Matriz. Jussara como sempre estava nos aguardando. Ao lado dela Marianne e Marcelo, a esposa e um amigo de Marcelo Vasconcelos, Cláudia da assessoria de comunicação. Rodrigo França que fez o último trecho da caminhada foi também cumprimentado por todos.
Como combinado à noite fizemos uma apresentação para mais de 100 moradores de Diamantina que se interessaram pelo tema e foram ao Mercado Municipal. Foi mais um dos emocionantes momentos da Expedição. Achávamos que o estoque de lágrimas já havia acabado durante a conversa da manhã, mas insistentemente elas teimavam em cair.

Expedição concluída. Agora voltamos à vida cotidiana. Voltamos para lugares onde muitas vezes nos sentimos estrangeiros, desajustados ao modo de vida da sociedade e ávidos por um novo grande desafio – nas montanhas é claro.

Texto: Herbert Pardini
Equipe da caminhada: Herbert Pardini, Marcelo Andrê, Bruno Costa e Silva, Marcelo Vasconcelos, Paulo Fiote e Rodrigo França.
Apoio: Ruslan Fernandes